quinta-feira, 30 de junho de 2016

De trinta em diante

Dia desses senti que de fato estou beirando os 30. Isso pode parecer um pouco louco pra quem sempre achou que viveria nos eternos 20 anos. Mas o fato é que a idade passa para todos e comigo não haveria de ser diferente. Embora haja todo um discurso florido de que devemos aceitar nossa idade, de que ela é linda assim como nossos 19, 20 anos, isso tudo é muito penoso de se aceitar. Há toda uma engenharia mental envolta disso para que haja um processo de aceitação da sua idade mas isso não é fácil. E esse processo se torna muito mais engenhoso se partirmos do princípio que vivemos numa sociedade de hipervalorização da juventude e de um processo de degradação da imagem de quem vê seus 20 anos cada dia mais distantes no seu retrovisor. Consequentemente temos pessoas que já passaram dos seus 20 há uns 20 anos tentando se portar como quando ainda morava com seus pais ou ainda no seu tempo de faculdade. Se vestem, usam gírias, comem, se apropriam de uma cultura restrita aquela faixa de idade para se sentirem bem e acabam se transformando num personagem desfigurado, muitas vezes amorfo com feições de um novo sem cor, empoeirado, triste e decadente. E o pior é quando no final do dia vem aquele sentimento reprimido lá no fundo dizendo “realmente estou ficando velho” e isso destrói a vida de qualquer ser.
Não os culpo por isso, a cobrança pela cultura da juventude é latente. A questão do fetiche relacionado a estética jovem é algo muito gritante. Na televisão, nos outdoors, nas rodas de conversas... Tudo isso é colocado como objetivo a ser atingido: a Juventude eterna, e que me coloca diante de uma questão importante: Será que envelhecer é tão ruim assim?
Bom, eu ainda estou chegando aos trinta, não pertenço cronologicamente a esse time, embora me sinta parte dele em alguns aspectos relacionados a valores, e posso dizer que envelhecer também é lindo! E ouso dizer que muitas vezes é mais interessante do que a juventude. A vida passa a desacelerar, o punk rock vira uma bossa-nova e todo e qualquer problema passa a ser diluído com maior sapiência e clareza.
Deitado na cama analisamos muitas vezes as paranoias que tínhamos enquanto jovem e vem um sorriso de canto de boca dizendo “como eu era tonto”. Vemos jovens com problemas com um namoro que a solução é simples pra gente e apenas nos vem mentalmente um “pra que isso tudo, meu jovem?”. Passamos a falar menos e a pensar mais. Passamos a analisar a vida com uma visão da posição de uma águia sobrevoando sua área e não de formiga atolada de trabalho que não consegue olhar para frente. Não nos desgastamos com coisas que são inúteis, e o melhor, sabemos distinguir o que é útil e o que não é. A vida soa tão tranquila que pra quem descobre a maravilha do envelhecer, que isso acaba se tornando um novo fetiche.
Repito, ainda não cheguei aos 30 mas já sinto um pouco do gostinho maduro e marasmático da fruta do envelhecer. Também não estou livre do fetiche da juventude pois nada melhor do que ter o vigor juvenil saltando os poros, do mundo brilhando aos olhos de tanta inocência, da vontade de fazer de tudo para melhorar o seu entorno, isso também é lindo, mas envelhecer é essencial para que façamos um mundo com mais sentido. Ser Jovem é resolver um problema mas arrumar outro. É como dormir com uma coberta curta, se cubro a cabeça descubro os pés. Já envelhecer é pensar que com essa mesma coberta eu consigo me cobrir por completo, ou consigo conviver com uma das partes do corpo desnuda com uma harmonia esplêndida.
Levantar de manhã após uma balada e não conseguir desempenhar as mesmas atividades com o mesmo vigor e necessitar de um tempo para tanto é algo triste de fato. Ver que nem tudo tem solução como acreditávamos nos idos 17, 18 anos também é doloroso, deixar algumas chamas se apagarem por saber que não tem sentido elas continuarem acesa é algo complicado, mas necessário. Precisamos saber que a vida é um eterno fluxo de vai e vem de virtudes. Ganhamos algumas no mesmo instante que perdemos outras e é isso que precisamos trabalhar ao longo da vida. A chegada da velhice é se importar mais com a essência e menos com a forma, se importar mais com o que é invisível aos olhos, ver a beleza das coisas com os olhos da alma. É sentar numa cadeira de praia e contemplar a beleza do mar em vez de pular de cabeça nele.
O que é mais belo disso tudo é que esse texto que escrevo hoje pode ser revisto amanhã por mim e com um sorriso de canto de boca ser dito: “como eu era tonto”.

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